Um dia, à Tua mesa
  
  
    Um dia sentar-nos-emos
    todos à mesa e ajustaremos contas.
    Dir-me-ás porque expulsaste do teu seio
    os que me apoquentam a toda a hora
    e que eu afasto à chapada de vez em quando.
    Dir-me-ás porque alteraste a nossa relação
    que ia tão bem: eu não te chateava muito e
    tu deixavas-me em paz.
    Contar-te-ei de como vivi a vida
    sentindo-te a olhar para mim de esguelha
    e das tuas expressões de impaciência
    perante o meu viver desvivido.
    Entendo perfeitamente que te
    habituaste à vassalagem e adivinho
    que até te agrada a minha relutância
    e que só recorro a ti por causa de outros
    (em grande desespero e
    mesmo assim não interferes, obrigado)
    mas de tipos como eu está o Inferno cheio
    e só me pergunto se me destinas
    a função de apanhar uns estalos feito estúpido após
    o regresso ou se me deixarás um espaço
    para andar entre as nuvens
    e as cinzas.