Gaia no passado
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Na área jurisdicional da antiquíssima povoação de Cale, de fundação romana, criou-se, no sopé do cerro em que era situada, e marginando com as águas do Douro, a povoação de Gaia) que, naqueles tempos, começou a florescer, em alto grau, devido a constituir o porto) ou cais de embarque e desembarque de passageiros entre as margens do sul e do norte do rio.

Com efeito, no largo fronteiro da margem direita do Douro, havia outro cais ou porto, onde, mais tarde, o Rei D. Manuel I, talvez para boa recordação de ali ter desembarcado, quando foi de visita ao túmulo de Santiago, Galiza, mandou edificar uma sólida porta, a qual, pela sua magnificência para a época, o povo começou a designá-la por Porta Nobre.
Do ponto obrigatório de ligação entre os cais de Gaia e da Porta Nobre, ainda hoje subsiste o nome de Cais da Boa Passagem.

Do quanto era florescente a povoação de Gaia na época em que a Rainha D. Teresa, no ano de 1120, fez doação do cerro de Penaventosa à Sé do Porto, há a destacar-se o facto do bispo D. Hugo e seus sucessores continuarem a manter o primitivo cais, e fronteiro ao de Gaia, ainda que ficasse bem distante da sede do seu episcopado.

Portanto, naquele tempo toda a área da actual Ribeira era deserta e por certo inacessível a ancoradouros dos barcos. Também, do lado fronteiro, Gaia, toda a zona desde a entrada da ponte de D. Luís até à entrada das ruas Rei Ramiro e do Marco estava desabitada.

O Rei D. Afonso desejando comparticipar nos fabulosos rendimentos que os bispos do Porto arrecadavam pelos impostos cobrados sobre as mercadorias saídas dos barcos vindos do Alto Douro, resolveu fundar, a nascente do antiquíssimo lugar de Gaia, no ano de 1255, a sua Mea Vila de Gaia.

Então, os prelados do Porto, para evitarem a ida de barcos para a margem da Mea Vila de Gaia resolveram estabelecer um aparelho apropriado a guindar as mercadorias dos barcos para terem, facto que originou dar-se ao sítio em que funcionava o referido guindaste – e outros que ali se colocaram – o nome de Guindais.

Verifica-se, pois, que os bispos da vizinha cidade se esforçavam por cobrar o máximo dos impostos sobre as mercadorias conduzidas nos barcos da região douriense.
E quando os barcos não aproavam ao sítio dos Guindais, logo se levantavam graves desavenças entre os empregados da mitra e os da coroa, que viviam na nova Vila de Gaia, a ponto dos monarcas, por vezes, terem de expedir reclamações violentas aos sucessores do bispo D. Hugo.

A nova Vila, fundada por D. Afonso III, teve o nome do antiquíssimo lugar de Gaia, em virtude desta povoação ser bastante conhecida na corte, desde remotos tempos, devido ao seu porto ou cais de embarque e desembarque de passageiros.

No ano de 1288, a 13 de Agosto, o Rei D. Dinis concede novo foral a Gaia, no qual estabelece que ao burgo velho do Porto, designado no foral de seu pai, fosse dado o nome de Vila Nova de Rei.

Verifica-se, pois, que a nova Mea Vila de Gaia, assim, mais se distinguia daquela pela sua nova denominação.

Com efeito, no foral dado pelo Rei D. Manuel I, a Mea Vila de Gaia, cuja área, naquele tempo, compreendia desde o sítio da Cruz do Penedo – também chamado Guindais por motivo de ter guindastes para carga e descarga de mercadorias – próximo à actual entrada do tabuleiro inferior da ponte de D. Luís I até à entrada da actual Rua das Costeiras – então chamada Cruz do Coadjutor – onde havia um marco divisório que, por fim, se perpetuou na rua actual, que tem este nome, e, de norte a sul desde a margem do rio Douro até à fonte chamada do Cabeçudo, exclusive, vem designada por Vila Nova de Gaia.

Quanto ao velho burgo do Porto – a antiga CALE – o nome de Vila Nova de Rei somente subsistiu, por certo, enquanto viveu D. Dinis, certamente por os habitantes desta povoação preferirem usar o nome antigo – Gaia.

Em fins de 1829, deu-se, porém, início à construção de uma cadeia provisória, no sítio do actual jardim Soares dos Reis, e erguida à face da estrada nacional, que foi demolida em fins do ano 1903, para ampliação do mesmo jardim, onde, em 30 de Outubro de 1904, foi inaugurada a estátua do insigne autor da estátua O Desterrado.

No edifício desta cadeia, no dia 28 de Maio de 1834, foi empossada a primeira comissão municipal do novo concelho de Vila Nova de Gaia, e constituída por António da Rocha Leão, presidente, e António Tomás da Silva, Francisco Alves de Oliveira Araújo e José Alves Souto, como vereadores.
Esta Comissão realizou a sua primeira sessão no dia 20 de Junho de 1834, num edifício sito na actual Rua Guilherme Gomes Fernandes, nº 81.
Todavia, o autor da construção da cadeia, que foi João Rodrigues da Cruz, ao dá-la por terminada, foi o primeiro a ser nela encarcerado por motivo de irregularidades verificadas nas contas.
No edifício da cadeia funcionou, até à sua demolição, a escola do sexo masculino do ensino primário oficial.

Como faleceram muitos soldados dos regimentos miguelistas, que estacionavam em Gaia, foi mandado construir, no alto de Santo Ovídio, um cemitério, obra de que se incumbiu o regedor João Domingues Ronda, muito afeiçoado ao governo de D. Miguel. Todavia, ao dar a sua Obra por concluída, foi ele o primeiro a ser sepultado no novo cemitério, facto que desolou a sua família, que fez todas as diligências para que fosse, antes, inumado na antiga capela de Santo Ovídio, então denominada do Senhor do Padrão.

A última missa celebrada nesta capela, foi rezada pelo padre António Ferreira Pinto, no domingo 15 de Julho de 1849.
Presentemente, em terreno Oferecido pelo Sr. Luís Fernando Queirós de Vasconcelos Porto, já foi erguida urna nova capela, com o mesmo frontispício da antiga e com a mesma capacidade.

A iluminação pública, em Gaia, foi inaugurada em 10 de Novembro de 1826. Os lampiões eram alimentados com azeite ordinário, e só eram acesos em noites em que não houvesse luar.
O primeiro lampeiro foi António Joaquim dos Santos, que foi avô do célebre músico Artur Napoleão.

A primeira bomba de incêndios foi estabelecida em 1840.
Os bombeiros gozavam do privilégio de não servirem na tropa, mas, durante seis anos, tinham que prestar os seus serviços em ocasiões de sinistros e fardarem-se à sua custa.
Na Bandeira foi instalada, também, no edifício da cadeia, uma bomba de incêndios.
Também funcionou, na Bandeira, uma secção de bombeiros voluntários, da qual foi dedicado e prestimoso comandante, Domingos da Rocha Romariz.

Antes de 1834, os serviços de polícia eram dirigidos pelo cabo-mor Miguel Joaquim Xavier de Moura Coutinho de Lacerda Abreu e Lima, que superintendia nas freguesias de Canidelo, Mafamude e Santa Marinha, era fidalgo e cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição.
Também exerceu o cargo de vice-presidente em 1839-40 e de presidente da Câmara de Gaia desde 1841 a 1844.

O Rei D. Sebastião deu a Jácome Pires o privilégio ou obrigação de ter os padrões para a medição de azeite, mediante a remuneração de um quartilho por cada carga e uma canada por cada pipa.
Este funcionário legou, no ano de 1549, os seus direitos à confraria do Santíssimo Sacramento, erecta na igreja de Santa Marinha.
Este legado foi confirmado pela Rainha D. Maria I, e chegou a render, por arrematação, 1.600$00 em dinheiro e mais meia pipa de azeite.
A partir de 1832, a confraria deixou de receber tão importante imposto.

As freguesias de Mafamude e Santa Marinha estiveram incorporadas à cidade do Porto até 1834. Nesta conformidade os seus habitantes gozavam dos mesmos direitos que os portuenses, pelo que, muitos Gaienses, chegaram a exercer o lugar de vereadores e de mestres na casa dos 24, que tratava da presciência dos oficiais de qualquer ofício quando pretendessem estabelecer-se.
Também gozavam da regalia de pegarem às varas dos pálios em ocasião de procissão.

A actual rua de Cândido dos Reis, começou a ser urbanizada em fins dou século XVII.

Todo o vasto recinto ocupado pelos armazéns das casas Calem e Sandeman era, outrora, um vasto areal.

A luta do cerco do Porto causou grandes estragos em muitos edifícios da zona ribeirinha.

Enfim, a Vila de Gaia, desde que foi emancipada da cidade do porto, tomou, sob a acção dos seus vereadores, um grande progresso, a ponto de ser, presentemente, a terra mais populosa e uma das mais importantes em estabelecimentos industriais e comerciais, depois das cidades de Lisboa e Porto.
Está ligada ao Porto, pela ponte metálica de D. Maria Pia, em serviço exclusivo do caminho de ferro, que foi inaugurada em 4 de Novembro de 1877, e pela ponte, também metálica, de D. Luís I, com dois tabuleiros, que abriu ao trânsito público em 31 de Outubro de 1886.
Desde a dia 28 de Outubro de 1905 que é servida pelas linhas de viação eléctrica n.º 13 e 14, com términos, respectivamente, em Santa Ovídio e Coimbrões.

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